Fernando de Noronha quer compensar em 5 anos todas as emissões de gases-estufa

Valor Econômico, Brasil, p. A2 - 17/12/2013
Fernando de Noronha quer compensar em 5 anos todas as emissões de gases-estufa

Por Daniela Chiaretti
De São Paulo

O arquipélago de Fernando de Noronha pode vir a ser o primeiro lugar carbono-neutro do Brasil. A ideia do governo de Pernambuco é, em cinco anos, fazer com que todas as emissões de gases-estufa de Noronha sejam compensadas - o que pode ser feito com o plantio de árvores e o uso intensivo de energias renováveis. A estratégia de colocar Noronha na trilha da economia verde é conquistar o setor privado para bancar o plano, usando o forte apelo de imagem de um dos lugares mais lindos do país.
Noronha fica a 545 km de Recife e tem, em média, 4.000 habitantes, sendo 500 turistas. Quem já esteve lá sabe que os táxis são a diesel, o único aerogerador eólico foi vitimado por um raio e o ar-condicionado das pousadas funciona a plena carga. O arquipélago é divino, mas o paraíso vive de energia suja.
Sérgio Xavier, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, quer reverter esse quadro totalmente até 2019 e fazer isso no que ele chama de "modelo-mercado" - sem gastar dinheiro público. "Entendemos que para resolver as emissões do planeta o setor produtivo tem que contribuir. O caminho da sustentabilidade tem que ser pela economica", disse ele ao Valor Pro, o serviço de informação em tempo real do Valor. "Governos têm que fazer as políticas públicas, estabelecer metas." Ele acredita que o setor produtivo pode ser seduzido em deixar seu nome gravado no esforço de tornar Noronha um ícone na economia de baixo carbono. "A ilha tem um apelo de imagem muito grande", diz.
A emissão per capita de gases-estufa, em 2012, foi de 8,9 toneladas de CO2 equivalente, bem mais alta que a média nacional (2,2 toneladas de CO2 em 2010), muito mais baixa que a dos americanos (17 toneladas de CO2 equivalente).
As emissões do transporte aéreo (turismo e aeronáutica) respondem por 55% do total de 35.600 toneladas de CO2 equivalente. A geração de energia elétrica emite outros 30% e o transporte interno, 8,3%, segundo o inventário de emissões de Noronha de 2012 feito pelo governo em parceria com a Fundação Ondazul e Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável. O restante vem do transporte marítimo, da agropecuária e gestão de resíduos.
Duas usinas de energia solar com capacidade de 1 MW serão implantadas pela Celpe, a empresa de energia do Estado. O investimento de R$ 18 milhões pode significar o suprimento de 15% da energia consumida pela ilha. Dois aerogeradores (mais modernos e baixos do que o que foi fulminado) irão suprir os prédios públicos - o que representará mais 5%. O uso da energia das marés também está em estudos, adianta Xavier.
Com as empresas aéreas, diz, trabalha-se em um sistema de incentivos para promover o uso de biocombustíveis. "É uma oportunidade de negócios para o Brasil", diz Xavier, que quer transformar Noronha em um "polo de demonstração de novas tecnologias sustentáveis." A intenção é promover o uso de veículos e bicicletas elétricos. Telhados verdes podem ajudar a reduzir o ar-condicionado. Passageiros dos aviões podem aceitar compensar suas emissões pagando taxas para o plantio de árvores.
O plano será apresentado hoje, em São Paulo, no Seminário Fórum Clima - 2013. Ali será divulgado o estudo "O desafio da harmonização das políticas públicas de mudanças climáticas - volume II", realizado pelo Observatório de Políticas Públicas de Mudanças Climáticas, uma iniciativa do Fórum Clima (que reúne grandes empresas) com o Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) da Universidade de São Paulo. O trabalho monitora políticas estaduais climáticas de 18 Estados. "A esfera local tem potencial inovador e antecipa mecanismos", diz Juliana Speranza, coordenadora do estudo.
O Acre, por exemplo, tem uma política estruturada de pagamento por serviços ambientais. Em São Paulo e no Rio, as empresas têm que fazer registros de emissões. Mato Grosso tem uma política já regulamentada de Redd, o mecanismo para proteger e dar valor às florestas. O problema é que são iniciativas espontâneas, que não conversam entre si. "A harmonização dessas políticas é o eixo que permeia esses estudos", diz Juliana.

Valor Econômico, 17/12/2013, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/3373652/fernando-de-noronha-quer-compensar-em-5-anos-todas-emissoes-de-gases-estufa
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