Brasil ganha vitrine para projetos sustentáveis

Valor Econômico - https://valor.globo.com/ - 11/04/2025
Brasil ganha vitrine para projetos sustentáveis
Biocombustíveis e soluções para proteção e regeneração florestal despontam com destaque

11/04/2025

Rafael Garcia

A COP30, a conferência do clima das Nações Unidas (ONU) a ser realizada em novembro em Belém, é uma oportunidade para governos, empresas e ONGs exibirem suas soluções para problemas ambientais e atraírem investimentos e parcerias. Embora não seja uma feira de negócios, o evento também tem servido, ao longo dos anos, como vitrine.

"Toda essa mobilização ao redor de um encontro global que se realizará no fim do ano em Belém é, na verdade, uma grande oportunidade para a gente discutir como o Brasil pode se posicionar para a comunidade internacional como um país que faz parte da solução dos desafios de clima e natureza e, portanto, um país que pode atrair investimento", afirma Marcelo Furtado, chefe de sustentabilidade da Itaúsa, que tem buscado ajudar no diálogo de empresas com a Convenção do Clima da ONU (UNFCCC).

O governo federal tem apostado em iniciativas como a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP), para divulgar projetos que já vem sendo financiados e têm chance de buscar mais capital externo ou cooperação internacional. "Mais do que atrair investimento para o Brasil, a COP30 pode ser um ambiente onde você costura a cooperação Sul-Sul para levar essas tecnologias de empresas brasileiras para outros países em desenvolvimento que têm desafios similares aos nossos", afirma Gustavo Tosello Pinheiro, especialista em finanças climáticas do centro de estudos E3G (Third Generation Environmentalism).

Há inúmeros campos de atuação em que o Brasil pode apresentar na COP30 negócios relacionados à sustentabilidade, mas dois têm exibido um diferencial maior em relação a outros países: os biocombustíveis e as "soluções baseadas na natureza", que englobam projetos de proteção e regeneração florestal.

Por ter a experiência com o etanol combustível desde a década de 1970, com o programa Proálcool, o país ganhou dianteira no desenvolvimento de biocombustíveis, que foi encampado, originalmente, não tanto pelo seu potencial ambiental, mas para oferecer segurança energética durante a crise do petróleo.

Como as plantações de cana-de-açúcar reabsorvem o CO2 que a combustão do álcool gera depois, a promoção do uso de etanol e outros biocombustíveis é uma frente importante hoje em políticas de mitigação do aquecimento global. Ampliar o mercado do álcool de cana, porém, é algo que envolve alguns desafios, como planejar a cadeia produtiva global e adaptar o combustível a veículos de grande porte.

"Nós estamos com a maior oportunidade já em curso de explorar esse grande ativo brasileiro, tanto aqui dentro quanto lá fora, ou seja, a bioenergia brasileira de um modo geral", afirma o presidente e CEO da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi. O setor tem atuado dentro do Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB) para promover a expansão do etanol como alternativa verde. Assim, já conseguiu alguns avanços, como uma parceria com o Japão para mistura do álcool em maior teor na gasolina.

O biodiesel, fabricado com insumos vegetais, também é uma alternativa vista como promissora. A BIP está promovendo, por exemplo, um projeto para combustível de aviação produzido a partir de macaúba, uma palmeira nativa brasileira, com um investimento de US$ 3,5 bilhões.

Na frente das soluções baseadas na natureza, a vantagem que o Brasil tem não é tanto na experiência, já que modelos de negócio nessa área são uma coisa relativamente nova. Por abrigar a maior floresta tropical do mundo (e um grande passivo ambiental de áreas desmatadas) é que o país se tornou um grande polo de projetos para proteção (e regeneração) florestal. Entre casos que o país pode exibir estão tanto projetos de concessão de áreas públicas para exploração sustentável de recursos (madeira, sobretudo) quanto parcerias para compensar comunidades indígenas pela proteção da floresta.

COP30 pode mostrar país como ator global, com soluções ambientais, diz Gustavo Pinheiro
No primeiro modelo, o governo do Pará está concedendo, pela primeira vez, uma unidade de conservação, a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, para exploração sustentável de madeira. O consórcio Systemica e TDX venceu o leilão do contrato (sem concorrência) no fim de março, e o Estado aposta em iniciativas como essa para ajudar a proteger a floresta usando recursos privados.

Outra modalidade de projeto que tem se expandido recentemente é a do REDD+ (sigla em inglês para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas), que pode ser aplicado a terras indígenas que estejam sob grande ameaça por madeireiras ilegais, grilagem ou garimpo ilegal. Duas comunidades indígenas amazônicas, os Tenharim, do sul amazonense, e os Ka'apor, do Maranhão, estão desenvolvendo projetos em parceria com a consultoria Wildlife Works para gerar créditos de carbono. A ideia é conseguir recursos para proteger os territórios.

"A gente vê nesse projeto o fortalecimento daquilo que a gente já faz dentro do plano de gestão territorial e ambiental da nossa área", afirma a líder indígena Daiane Tenharim, explicando que a empresa aceitou fazer os projetos nos termos de seu povo, acomodando um arranjo complexo de governança entre vários núcleos e aldeias.

Concessões florestais e projetos de REDD+ já foram realizados em outras ocasiões na Amazônia, nem sempre com sucesso, mas pesquisadores acreditam que mesmo as histórias de fracasso se somam no aprendizado que o país pode exibir para exterior.

O setor de inovação ambiental no Brasil também não vive só de florestas e biocombustíveis. O próprio BIP lista projetos na área de indústria pesada, por exemplo, como a de cimento, que tem conseguido abater emissões de CO2 em iniciativas pioneiras no país.

"A COP30 oferece algo que vai além de atrair investimento para o Brasil, que é ver o país não só como um receptor, mas como um ator global que vai mostrar que tem soluções ambientais em todos os setores", afirma Pinheiro, da E3G. "A gente tem uma quantidade de inovação, tecnologias, vantagens comparativas e tudo mais, que podem se materializar em diferenciais competitivos em empresas globais", complementa Pinheiro.

https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/cop30/noticia/2025/04/11/brasil-ganha-vitrine-para-projetos-sustentaveis.ghtml
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