A caça irregular ameaça de extinção animais como mico-leão-da-cara-dourada, macaco-prego-do-peito-amarelo e onça parda que se refugiam na Reserva Biológica (Rebio) de Una, no litoral da Bahia. Armas, instrumentos de caça e um tatu abatido foram apreendidos, na semana passada, em uma fazenda situada no interior da reserva, durante uma operação de fiscalização.
O arsenal encontrado confirmou as várias denúncias recebidas pelos servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de que as duas propriedades rurais localizadas na reserva servem como ponto de apoio e de alojamento para caçadores, principalmente, nos fins de semana e feriados.
Realizada na reserva biológica e no Refúgio de Vida Silvestre de Una, uma unidade de conservação recém-criada pelo Instituto, a fiscalização, idealizada pelo chefe da Revis, Saturnino Neto, e coordenada pelo chefe da Rebio, Paulo Cruz, contou com a participação dos agentes de fiscalização do ICMBio, do Ibama, da Companhia de Proteção Ambiental da Polícia Militar da Bahia de Ilhéus (Coopa) e da Polícia Militar do município de Una.
Com o mandado de busca e apreensão emitido pelo Fórum Ministro Eduardo Espínola, Juízo de Direito da Comarca de Una, eles entraram nas duas propriedades e apanhar o material proibido. Pesquisadores que usam a unidade para desenvolvimento de estudos científicos afirmam ter escutado tiros nas proximidades e acusam os caçadores de ter furtado várias armadilhas para pesquisa, fixadas em locais estratégicos.
"Recebíamos muitas denúncias de que essas propriedades serviam como alojamento e muitos pesquisadores também denunciaram essas propriedades. Ouviam tiros muitas vezes nas proximidades e algumas armadilhas também para pesquisa tinham sido roubadas por caçadores", afirma Marchena.
Embora a legislação proíba propriedades privadas em reservas biológicas, o governo federal ainda não indenizou as propriedades que estão no interior da Rebio do Una e que foram incorporadas antes da criação da reserva. Por isso, elas permanecem funcionando. O arsenal de caça foi encontrado logo na primeira propriedade.
Com o mandado de busca e apreensão, os agentes fiscalizaram a outra propriedade na qual encontraram apenas um caçador com uma espingarda de fabricação alemã de dois canos. Eles notificaram um homem que insistia em criar gado no interior da reserva e deram a ele um prazo de 15 dias para retirá-lo de lá.
ESPÉCIES AMEAÇADAS - A Rebio de Una foi criada para preservar trecho remanescente de Mata Atlântica no litoral baiano e principalmente para preservar espécies ameaçadas de extinção que se abrigam naquela região. São espécies endêmicas, como, por exemplo, os primatas criticamente ameaçados de extinção, o mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas), o macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e a onça parda (Puma concolor greeni), que também está na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção, vivem na reserva.
Situada no Sul da Bahia, a Rebio está situada na região dos municípios de Ilhéus e Una. Com 18.500 hectares, boa parte da área da unidade é constituída pela Mata Atlântica e outra parte abriga um manguezal. A reserva também abriga o sagui-de-tufo-preto. A Universidade Estadual Santa Cruz (UESC) realiza muitas pesquisas na Rebio. É de lá que saem as principais pesquisas na Rebio.
A reserva biológica é uma das categorias de unidades de conservação mais restritivas. Nela não pode haver propriedades privadas nem exploração comercial. Esse tipo de unidade foi criada para proporcionar a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes entre seus limites.
Na Rebio, é proibida a interferência humana direta e são impedidas modificações ambientais, com exceção das medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados, bem como ações de manejo cuja finalidade é recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos.
Trata-se de um lugar ideal para execução de pesquisas científicas. Na Rebio de Una, a maioria das pesquisas é voltada para as duas espécies de primatas ameaçadas de extinção: o mico-leão-da-cara-dourada e o macaco-prego-do-peito-amarelo. "Os pesquisadores trabalham muito com comportamento dessas espécies, uso de habitats, viabilidade populacional, dieta etc.", explica o analista ambiental.
Bruno Marchena informa que "qualquer um pode vir fazer pesquisa, só precisa da autorização do SISBio, que é o procedimento normal. Aqui temos um alojamento para pesquisadores, uma casinha com quartos, cozinha e outras áreas apropriadas para alojar pessoas". O plano de manejo da unidade foi elaborado em 1997, mas a Rebio foi criada em 1980. A preservação dos micos-leões-da-cara-dourada foi o principal motivo da criação dessa reserva.
Confira a seguir os objetos apreendidos pelos agentes de fiscalização:
1 (um) rifle calibre .22, Rossi, G348835;
7 (sete) espingardas de fabricação caseira, com cabos de madeira;
2 (dois) cabos de madeira de espingarda;
6 (seis) canos de espingarda;
1 (uma) espingarda de fabricação caseira com cabo de tubo metálico;
2 (dois) sistemas de gatilho para espingardas;
3 (três) armadilhas de disparo;
4 (quarto) armadilhas para tatus (jiquis) de nylon;
1 (um) jiqui de metal;
1 (uma) armadilha tomahawk, material de pesquisa furtado na Rebio de Una
8 (oito) munições intactas calibre .22;
1 (um) munição calibre .22 deflagrada;
4 (quatro) estojos vazios para munição de espingarda calibre .22;
1 (uma) caixa contendo 33 munições, calibre .22;
1 (um) cinto de lona para munição;
3 (três) recipientes plásticos, contendo chumbinho para munição;
4 (quarto) recipients, contendo espoleta;
1 (um) recipiente plástico contendo pólvora;
1 (um) chumaço de bucha para espingarda;
2 (duas) bolsas com artefatos diversos para caça e pesca;
1 (um) tatu silvestre abatido da espécie Dasypus novencinctus.
Todos os materiais apreendidos foram encaminhados para a Delegiacia de Polícia Federal de Ilhéus, Bahia.
UC:Geral
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