O campus da mata

O Globo, Rio, p.12 - 26/12/2004
O campus da mata
UFRJ vai ampliar suas instalações no Parque de Jurubatiba
Paulo Roberto Araújo
O primeiro campos UFRJ fora da cidade do Rio vai explorar a riqueza ambiental de um paraíso ecológico de 44 quilômetros no litoral do Norte Fluminense. Até julho de 2005 começará a funcionar, em Macaé, o curso de biologia da universidade, que terá como principal campo de pesquisas o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, com 14.800 hectares e 18 lagoas preservadas, nos municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã
A inauguração do campus vai coincidir com o lançamento de um livro sobre Jurubatiba, uma produção conjunta do professor Francisco Esteves, diretor do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem), e do fotógrafo Rômulo Campos, que, ao longo de dois anos, retratou a beleza e a importância do parque em 20 mil fotografias a serem doadas para o acervo do Ibama e de bibliotecas da região. 0 objetivo do livro, que também será distribuído nas escolas durante aulas de educação ambiental, é estimular a preservação do parque.
- Jurubatiba conserva uma série de ecossistemas preservados e uma grande variedade de espécies endêmicas (que, só ocorrem ali). A criação do parque, em 1998, conseguiu evitar invasões. Ele está situado numa área de grande explosão demográfica por causa da exploração do petróleo. É preciso todo cuidado para evitar a degradação do ambiente - afirma o professor, que coordena o Departamento de Ecologia da UFRJ.
Novas salas laboratórios e alojamentos
O parque é vasculhado desde 1994 por estudantes e pesquisadores, do Brasil e do exterior, baseados no Nupem, onde já começou a construção de mais um prédio de dois andares, financiada pela prefeitura do município, e dos laboratórios do novo campus da UFRJ. O de Macaé, além das antigas instalações do Nupem, terá salas de aula, novos laboratórios de pesquisa e ensino, dois auditórios, laboratório de informática e alojamentos confortáveis para 120 alunos e pesquisadores.
As pesquisas do Nupem e a criação do parque resultaram no gerenciamento completo das 18 lagoas de Jurubatiba e na mudança do currículo de todas as escolas da região, que passaram a incluir a educação ambiental entre as matérias convencionais. Estudantes do ensino médio e universitários de outras cidades, inclusive da capital, também passaram a explorar o Jurubatiba.
0 parque se chama assim por causa da união dos nomes de duas espécies que existem em abundancia no local: o coqueiro jiriba e a palmeira tiba. O paisagista Roberto Burle Marx costumava visitar a restinga acompanhado do colega Rui Pinto, que mora em Macaé, e foi o primeiro paisagista a levar as plantas de lá para Brasília.
Até o lançamento do livro, o fotógrafo Campos espera produzir mais cinco mil fotografias, fechando o acervo com 25 mil imagens de Jurubatiba, algumas delas mostrando espécies em extinção, como a borboleta-da-praia.
- O parque tem um padrão de vegetação que, o toma um imenso labirinto. Se o visitante não estiver acompanhado de um guia, pode se perder. A vegetação é muito parecida, como se fosse uma sucessão de carimbos. 0 grande problema do parque é a falta do plano de manejo, que depende do Ibama - lamenta o fotógrafo.
Abaneiro de três metros é a grande vedete
Uma das atrações do parque é o canal Macaé Campos, que tem cerca de cem quilômetros e foi construído por escravos no tempo do Império para escoar a produção de açúcar de Campos para o porto de Macaé. 0 canal está assoreado, mas a navegação é possível em vários trechos de Macaé e Carapebus. Em Quissamã, existem várias fazendas históricas e senzalas que estão sendo restauradas pela prefeitura. 0 objetivo é estimular o turismo histórico-cultural na cidade.
O novo campus da UFRJ terá inicialmente 60 alunos no curso de biologia, que desenvolverá pesquisas voltadas para a ecologia e outras na área de ciências biológicas. O parque é um grande campo para os cientistas em busca de novas espécies endêmicas. Jurubatiba tem fartura de cactos, bromélias, caju, palmito, pitanga e guriri. Mas a grande estrela é a Clusia (abaneiro-da-praia), única planta que faz fotossíntese (absorção do gás carbônico) à noite. A espécie, muito disputada por paisagistas, chega a três metros de altura e permite que outras plantas cresçam à sua sombra:
- Os cientistas têm grande interesse no estudo dessa planta. Além da sua beleza e riqueza ambiental, a Clusia possui uma seiva que, segundo os estudos iniciais, é extremamente eficaz no controle de viroses - disse Esteves


O Globo, 26/12/2004, p. 12
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Restinga de Jurubatiba
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.