Estudo inédito sobre borboletas revela as riquezas da Estação Ecológica de Iquê

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 27/03/2009
Quem deu o diagnóstico foi a bióloga e analista ambiental do Ibama, Cibele Madalena Ribeiro Xavier: a Estação Ecológica (Esec) de Iquê, em Mato Grosso, é abundante em riqueza natural. O diagnóstico é resultado de um levantamento inédito sobre borboletas realizado na Esec entre janeiro e julho do ano passado e integra a dissertação de mestrado de Cibele Xavier a ser apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Intitulado "Comunidade de borboletas frugívoras da Estação Ecológica de Iquê, Juína-MT", o estudo mostra que, apesar de bem preservada, cuidados com a unidade são imprescindíveis para a conservação da biodiversidade e para a manutenção do ecossistema da região, uma área de mais de 200 mil hectares de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica.

A conclusão da pesquisa indica ainda que para manter a integridade ecológica do local é fundamental a elaboração e a implantação de políticas públicas a fim de que se atinja tanto uma gestão eficiente como os objetivos previstos no ato de criação da unidade. A pesquisadora pretende transformar o estudo científico em subsídio para elaboração do plano de manejo e para a construção da gestão ambiental da estação ecológica.

BORBOLETAS - Agentes importantes para a avaliação do grau de conservação de um ecossistema, as borboletas revelaram à Cibele que a unidade está ecologicamente equilibrada. Durante os seis meses de pesquisa, ela constatou um elevado número de diversidade de espécies e de indivíduos nas populações de ninfalídeos (família de insetos lepidópteros que reúne todas as borboletas diurnas ou crepusculares com as pernas anteriores muito reduzidas), bem como a permanência desses insetos por amplo período durante o ano.

Embora as borboletas sejam resistentes a locais inóspitos, elas são indicadoras de regiões em bom estado de preservação porque respondem rapidamente às alterações ambientais. Onde há borboletas em abundância, a natureza está praticamente intacta. Foi nesse cenário ambientalmente estável da Esec que a pesquisadora observou o comportamento e coletou borboletas em vários pontos. Algumas foram sacrificadas para compor uma coleção já disponível na Faculdade de Engenharia Florestal da UFMT. "Como esse é o primeiro levantamento, é de praxe que se monte uma coleção representativa", explica.

As borboletas encontradas são típicas da região neotropical e distribuem-se desde o México até a Argentina. O número de espécies do grupo na região varia de 7.100 a 7.900. No Brasil, esse número varia de 3.100 a 3.280 espécies descritas. A bióloga comemora os resultados porque várias espécies das mais abundantes na Esec (38 espécies) são consideradas raras, difíceis de encontrar em qualquer época e lugar por manterem populações pequenas, sazonais e erráticas.

Ela concluiu que, entre as espécie mais abundantes, a Catonephele acontius foi a que mais se destacou. Com uma mistura de banana amassada, fermentada em caldo de cana, a pesquisadora atraiu 605 borboletas frugívoras (que se alimentam de frutos) no dossel (cobertura contínua formada pelas copas das árvores) e no sub-bosque (região em que predomina vegetação típica de cerrado) da unidade.

Apesar de a coleta realizada durante o período seco e chuvoso ter revelado a existência de 54 espécies distintas, o período de transição entre a estação chuvosa e a seca foi o mais representativo por ter sido o que apresentou o maior número de captura e de recaptura das borboletas. A pesquisadora afirma que, por ser o primeiro estudo sobre borboletas realizado na estação, a tendência é que a unidade seja procurada por outros pesquisadores para realização de estudos mais aprofundados sobre o tema.

INAUGURAÇÃO - Além das borboletas, Cibele também atraiu cientistas para a Esec e, com isso, inaugurou um novo momento na unidade. É que a região foi abandonada pelos cientistas por mais de uma década em virtude da falta de estradas e das más condições de acesso ao local. A última pesquisa realizada na estação ecológica ocorreu em 1996 e até o ano passado ficou esquecida pela comunidade científica.

Com o trabalho de Cibele, a estação ecológica voltou a ser procurada por pesquisadores de várias universidades, como pela própria UFMT, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista. Segundo informações dos analistas ambientais que atuam na estação ecológica, quatro pesquisas foram iniciadas na unidade no ano passado.

Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram um estudo com três espécies de araras. Está em curso também uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista que, em parceria com a Universidade da Califórnia, desenvolve um estudo sobre anfíbios. Além dessas, há mais duas pesquisas, ambas relacionadas com a flora da região, também em andamento na estação ecológica.

O abandono, no entanto, não foi a regra da Esec. Na década de 1980, a unidade cumpriu sua vocação e fez parte do roteiro de atividades científicas de várias instituições. A última pesquisa realizada na Esec ocorreu em 1996, quando uma pesquisadora da UFMT fez um trabalho sobre unidades de conservação no Estado de Mato Grosso.

Antes disso, porém, a estação era procurada por cientistas. Exemplo disso é que, ainda na década de 1980, o Museu Emilio Goeldi que chegou a coletar 75 espécies de invertebrados para realização de estudos. Em 1985, as pesquisadoras Eleonore Setz e Katharine Milton publicaram o artigo "Primate Survey in the Iquê-Juruena Ecological Station, Mato Grosso, Brasil" na revista Primate Conservation sobre primatas da região.

PRESSÃO EXTERNA - De acordo com a análise de Cibele Xavier, embora a Esec não sofra nenhum tipo de pressão externa, no passado foi alvo de atividades incompatíveis com sua categoria de manejo. Criada em 1981 para proteger amostra do ecossistema de transição entre a floresta amazônica e o cerrado, durante muito tempo ela foi invadida por grileiros, agredida pelo garimpo de diamantes, deformada pela exploração de cascalho, desfigurada pelas ações governamentais que realizaram correções nas rodovias MT-319 e na BR-174, com abertura de estradas dentro da mata e em locais com declividades superior a 45o, o que ocasionou grandes erosões na região.

Um levantamento efetuado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em janeiro de 2006, demonstrou que havia nove processos de requerimento de pesquisa de ouro e de diamantes, válidos e cadastrados, no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para ser desenvolvidos na Esec de Iquê. Em março do mesmo ano, aumentou para 12 o número de processos para exploração de minérios na zona de amortecimento, seis dos quais eram autorizações de pesquisa, uma concessão de lavra garimpeira e cinco requerimentos de pesquisas, além de quatro processos incidentes nas terras da comunidade indígena Enawenê-Nawê e um no Parque Indígena do Aripuanã.

Atualmente, o maior desafio da unidade de conservação é conviver com a sobreposição de área, visto que "o artigo 2o do Decreto s/n, que criou a Terra Indígena Enawenê-Nawê, revogou o decreto de criação da Estação Ecológica de Iquê e gerou a sobreposição de mais de 98% da unidade com a terra indígena, o que vem inviabilizando em grande parte a gestão da unidade e impedindo que a área seja conhecida e estudada", afirma a analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e chefe da estação ecológica, Rossana Santana.
UC:Estação Ecológica

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